História dos quilombos da Amazônia leva centenas à Estação Gasômetro

Enviado por thalya.treptow em Sex, 18/08/2023 - 10:45

Formas de resistência e preservação de identidades foram alguns dos pontos debatidos com professores das redes estadual e municipal de ensino e representantes de vários territórios quilombolas no Pará

 

Por Marcelo Leite (COSANPA)

18/08/2023 08h40

 

Imagem do evento

 

Símbolos históricos de resistência, os quilombos existentes no Brasil e na Amazônia são, há pelo menos 40 anos, inspiração para as pesquisas do professor Flávio Gomes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Nesta quinta-feira (17), a convite da Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), ele compartilhou parte desses conhecimentos com universitários, professores das redes estadual e municipal de ensino e com quilombolas residentes em territórios de Belém, Castanhal, Ananindeua, Bujaru, Tomé-Açu, Santa Izabel, Concórdia do Pará, Portel, Mocajuba e Tucuruí.

 

Baseado em recortes históricos dos séculos 16 ao 20, o professor abordou, para cerca de 300 pessoas presentes no Teatro Estação Gasômetro, em Belém, o processo de escravização dos negros na Amazônia, a luta por sobrevivência, preservação de identidades, e sobre como esse passado ainda se faz presente como forma de resistência nos vários territórios quilombolas existentes na atualidade.

 

Flavio Gomes

 "Apesar dos anos de pesquisas sobre quilombos,   esse é um tema contemporâneo que tem várias   relações com meio ambiente, estado, educação,   território. Esse encontro não teve a intenção de   recontar uma história, até porque os quilombolas   conhecem a própria história e o Pará contribuiu   muito para este processo de aprendizagem. Foi   aqui que visitei um quilombo pela primeira vez e   tive acesso a conteúdos que abriram minhas   possibilidades de pesquisas”, contou Flávio   Gomes. 

 

 

Atenta à apresentação, a estudante de história na Universidade Federal do Pará (UFPA), Brenda Miranda, é natural do Quilombo Tartarugueiro, localizado no município de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó. Para ela, o encontro foi uma oportunidade de aprendizado a partir de conhecimentos produzidos nos territórios quilombolas.

 

“Antes de eu chegar na faculdade, meus avós e ancestrais já estavam nos territórios e pesquisas já eram feitas. Agora, temos a oportunidade de discutir e participar dessas pesquisas como base produtora de conhecimento”, frisou a estudante. 

 

Além da Seirdh, a realização da palestra contou com apoio das secretarias estaduais de Cultura (Secult), e Educação (Seduc), da Prefeitura de Belém, movimentos organizados representantes de quilombos, de defesa dos negros e de instituições ligadas ao judiciário e ao ensino superior. 

 

Presente no encontro, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, destacou a parceria interinstitucional como “fundamental porque tem a ver com história, memória, diversidade social e cultural dentro de um desafio de respondermos quem somos e falarmos sobre a contribuição histórica daqueles que nunca deixaram de acreditar em futuro justo e feliz, honrando a memória de lideranças antepassadas revolucionárias”, falou o gestor municipal. 

 

Titular da Seirdh, Jarbas Vasconcelos disse ainda que a palestra é uma maneira de reforçar questões necessárias não apenas para o entendimento sobre o processo de formação dos quilombos, mas também para conscientizar sobre a existência de uma Amazônia negra com uma história sendo escrita em construção. 

 

Jarbas Vasconcelos secretário de igualdade racial e direitos humanos

 

“A criação de políticas públicas é sempre um desafio que precisa ser pensado para além do momento que estamos passando. Por isso, temos dialogado com várias secretarias e com o governo federal para recuperar essa memória que é nossa identidade, exemplo de resistência e que não podemos deixar que seja invisibilizada, como tem denunciado o professor Flávio Gomes”, disse Jarbas Vasconcelos.